sexta-feira, 19 de maio de 2006

Eternas ondas

LP Raimundo Fagner
Como vários outros compositores, Zé Ramalho também fez uma música para Roberto Carlos gravar. Então, participando de um passeio no iate Lady Laura, ele apresentou-lhe “Eternas Ondas”, uma canção inspirada no tema bíblico do dilúvio, que expõe o contraste entre a grande força da natureza e a fragilidade humana: “Quanto tempo temos / antes de voltarem aquelas ondas / que vieram como gotas em silêncio / tão furioso / derrubando homens entre outros animais...”

Mas Roberto não aproveitou a composição, talvez trágica demais para o seu estilo, que Ramalho passou para o amigo Fagner. Faixa de abertura do álbum Raimundo Fagner, lançado no final de 1980, “Eternas Ondas” recebeu do cantor cearense uma interpretação definitiva, bem ao seu jeito, intenso, emocionado (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Eternas ondas (1981) - Zé Ramalho - Intérprete: Fagner

LP Raimundo Fagner / Título da música: Eternas ondas / Zé Ramalho (Compositor) / Fagner (Intérprete) / Gravadora: CBS / Ano: 1980 / Álbum: 230040 / Lado A / Faixa 1.

Intro: E  G# D#m7/5- G# C#m

C#m   D#m7/5-                        G#            C#m
      Quanto tempo temos antes de voltarem aquelas ondas
F#m                        B7     G#     C#m
Que vieram como gotas em silêncio tão furioso;

E                              G#
Derrubando homens entre outros animais,
D#m7/5-      G#              C#m
Devastando a sede desses matagais (bis);

F#m                      G#
Devorando árvores, pensamentos seguindo
  C#m   F#m                           B7        C#m
A linha do que foi escrito pelo mesmo lábio tão furioso,

E                            G#       D#m7/5-
E se teu amigo vento não te procurar
              G#               C#m
É porque multidões ele foi arrastar (bis).

3 comentários:

  1. Além do ponto bíblico, achava que tbm tinha alguma relação com a Ditadura, porém, como vi acima não tem. Foi novidade pra mim o fato de ter sido escrita primariamente para o RC gravar e que o mesmo não à gravou, por algum motivo nunca explicado, mas que existe deduções como mostra acima na explicação. Muito bom; obrigado pelas informações.🤝🏼

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acredito que pode haver sim uma relação com a ditadura militar, como é de praxe das músicas do Zé Ramalho, pra isso, vamos por partes: "Que vieram como gotas em silêncio, tão furioso" apesar de ter sido uma ditadura extremamente sanguinária, o fato de ter acontecido mostra como ela é praticamente inevitável no nosso sistema, pra denotar isso, Zé Ramalho consta como algo que é alimentado aos poucos, silenciosamente, para só quando for necessário, ser realizada, isso vai de uma percepção de jogo político e a visão do estado como um que serve aos interesses capitalistas, não aos interesses dos trabalhadores (em grande parte), enfim, continuamos; "Seguindo a linha, do que foi escrito pelo mesmo lábio, tão furioso" essa parte já fica mais clara constatando a relação dessa música com a ditadura, pois se evidencia que todo esse ocorrido trágico já veio de resultado dos famigerados discursos de ódio, que basicamente é a forma que o fascismo se espalha, aproveitando-se dos medos e anseios da população , principalmente os menos educados de forma política; "E se teu amigo vento não te procurar, é porque multidões ele foi arrastar" por fim, ele termina a canção dizendo que se um suposto amigo não te procurar (ajudar), que acredito ser uma alusão a nossa social democracia, é porque multidões ele foi arrastar (essa parte é bem óbvia), isso mostra que por mais que a nossa república social democrata nos ajude (de certa forma), ela não impede as eternas ondas. Minha opinião pessoal sobre a música, vista nesse sentido, é aceleracionismo na veia, mas não deixa de ser uma ótima música com uma ótima letra.

      Excluir
  2. Roberto que também recusou gravar a música "Se eu quiser falar com Deus" de Gilberto Gil. O empecilho estava exatamente no trecho que diz "...tenho que comer o pão que o Diabo amassou". Muito religioso Roberto jamais cantaria esse trecho. Talvez o trecho "mesmo lábio tão furioso" tenha mexido com o espírito do rei.

    ResponderExcluir