quarta-feira, 26 de abril de 2006

Coração Materno

Todo o romantismo dramático, exacerbado, que caracteriza o estilo Vicente Celestino está em "Coração Materno", composição baseada numa lenda de mais de quinhentos anos, segundo o autor. Secular ou não, o fato é que a tal lenda inspirou a mais trágica (se levada a sério) ou mais ridícula canção de nossa música popular (na foto: Vicente Celestino).

Uma canção sobre as desventuras de um sujeito que mata a própria mãe e lhe extrai o coração, para oferecê-lo a namorada, que assim o exige como prova de sua paixão... E quando volta correndo para completar a missão junto à amada, o desastrado matricida tropeça e cai, quebrando a perna. Nesse momento, o coração materno salta-lhe da mão e, rolando pelo chão, exclama: "Magoou-se, pobre filho meu? / vem buscar-me que ainda sou teu...". Pois esta inacreditável canção impressionou e comoveu os fãs de Vicente Celestino, constituindo-se em um de seus maiores e mais duradouros sucessos.

Em 1968, "Coração Materno" foi utilizado com grande repercussão por Caetano Veloso, no disco Tropicália, simbolizando o culto ao cafona. Em flagrante contraponto à versão patética de Vicente, Caetano deu-lhe uma interpretação linear e fria, acompanhado por uma orquestra de Rogério Duprat.

Assim como O Ébrio, Coração Materno também virou filme, rodado em 1952 e estrelado por Vicente Celestino e sua mulher Gilda de Abreu. Só que no filme, Gilda, autora do argumento, amenizou a tragédia, cancelando o tricídio. Talvez por isso não tenha repetido o sucesso de "O Ébrio"...

Coração materno (tango-canção, 1937) - Vicente Celestino - Intérprete: Vicente Celestino

Disco 78 rpm / Título da música: Coração materno / Vicente Celestino (Compositor) / Vicente Celestino (Intérprete) / Orquestra Victor Brasileira (Acomp.) / Gravadora: Victor / Gravação: 18/03/1937 / Lançamento: 03/1937 / Nº do Álbum: 34156 / Nº da Matriz: 80346-1 / Gênero musical: Tango canção


Int.: Dm Em5-/7 A4/7 A7
 
 Dm                 A7                                           
Disse um campônio à sua amada: 
                                    Dm
   "Minha idolatrada, diga-me o que quer
    Am5-/7   D7         Gm Gm/F          
Por ti vou matar, vou roubar, 
                E                A7
    embora tristezas me causes mulher
 Dm                     A7                                      
Provar quero eu que te quero, 
                                       Dm
     venero teus olhos, teu porte, teu ser
    Am5-/7     D7     Gm                    
Mas diga, tua ordem espero, 
                      A7               D     A7
    por ti não me importa matar ou morrer"

        D        Bm           Em            
E ela disse ao campônio, a brincar:    
                 A7                D    A7
       "Se é verdade tua louca paixão
      D        D7       G            E               A7
Parte já e pra mim vá buscar de tua mãe inteiro o coração"
  F#7  Bm               Em             A7               D   A7
E a correr o campônio partiu, como um raio na estrada sumiu
      D    D7         G         A7                 Dm
Sua amada qual louca ficou, a chorar na estrada tombou
 Dm                   A7
Chega à choupana o campônio 
                                   Dm
E encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Am5-/7       D7        Gm  Gm/F
Rasga-lhe o peito o demônio
             E                  A7
Tombando a velhinha aos pés do altar
 Dm              A7                                   Dm
Tira do peito sangrando da velha mãezinha o pobre coração
 Am5-/7     D7         Gm                  
E volta à correr proclamando: 
                    A7                 D      A7
     "Vitória, vitória, tens minha paixão"
        D         Bm     Em        A7               D    A7
Mas em meio da estrada caiu, e na queda uma perna partiu
        D         D7         G            E             A7
E à distância saltou-lhe da mão sobre a terra o pobre coração
 F#7     Bm             Em                 A7          D
Nesse instante uma voz ecoou: "Magoou-se, pobre filho meu?
     D         D7           G           A7                    D
Vem buscar-me filho, aqui estou, vem buscar-me que ainda sou teu!"


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

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